quinta-feira, agosto 26, 2004
dava pra ver o tempo ruir
cadê você? Que solidão! Esquecera de mim?
Enfim,de tudo o que há na terra não há nada em lugar nenhum
que vá crescer sem você chegar
longe de ti tudo parou
ninguém sabe o que eu sofri
Amar é um deserto e seus tremores
vida que vai na sela destas dores
não sabe voltar
me dá seu calor
Vem me fazer feliz porque eu te amo
você deságua em mim e eu oceano
e esqueço que amar é quase uma dor
Só sei viver se for por você
zulu ouvindo Djavan
sexta-feira, agosto 20, 2004
Cidade do Porto
Palmeiras inclinadas. Ao longe o casario. É na água que o vejo, que sinto a cidade acordar.
Mais uma mulher que olha o rio. Tenho as mãos desatadas, os pés a caminho. As margens alargam quando estou perto, mas do outro lado as mulheres não reflectem o rosto ou mesmo a sua ausência.
São matéria do verbo fazer e caminham junto ao chão, na curva da noite para o marido. Gastos os sonhos por usar. Descorado pano que ficou ao sol. Nelas a cidade não acorda, não regressam os barcos à tardinha.
Vêm pela beira dos caminhos, a tristeza amável, a raiva cega e às vezes um sorriso que sacode os ombros porque até a tristeza tem um custo, uma esperança na sola do sapato. Vejo-as todos os dias e é como se a vida me atasse os pés, me anelasse os dedos. Como eu, outras mulheres olhando o rio, desbordando o pano, descozendo a sopa. Ama-se o homem que vira a esquina connosco e sabe que não podemos fingir que a ferida está fechada. As casas acendem.
E na água que vejo a sua luz descendo o rio. As mulheres passam em silêncio para as casas, atravessam a pele — deixam um retrato puído nas entranhas. Olho o rio e não sei fingir que finjo tanto mar.
Rosa Alice Branco
zulu, invicto, volta para a semana à Mouraria.
segunda-feira, agosto 16, 2004
El alimento servido desgasta la vasija
Ningún leño conserva su corteza cuando envejece
Ningún amante está tranquilo
Mientras llora su rival.
Poema Zulú
zulu agradece a neblina
sexta-feira, agosto 13, 2004
quinta-feira, agosto 12, 2004
Não é este ? Volta para trás...
Ahhh, é este!
zulu perdido em Sintra!!!
domingo, agosto 08, 2004
Helena Almeida
o silêncio
dos lugares de lembrança
tão deliciosamente vociferados
o silêncio
encastoado em si
circunscrito na doença da palavra em branco.
no riso pelos outros.
nos pensamentos
e em toda a amargura que um momento belo tem
quando a natureza vive em nós
e nós somos o silêncio
dos lugares.
nuno travanca
quinta-feira, agosto 05, 2004
Avião sem asa
fogueira sem brasa
sou eu assim sem você
Futebol sem bola
piu piu sem Frajola
sou eu assim sem você
Por que é que tem que ser assim?
se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
nem mil auto-falantes
vão poder falar por mim
Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
sou eu assim sem você
Circo sem palhaço
namoro sem abraço
sou eu assim sem você
Tô louco pra te ver chegar
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
retomar o pedaço
que falta no meu coração
Eu não existo longe de você
e a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
mas o relógio ta de mal comigo
Por quê?...por quê...
Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
sou eu asism sem você
Carro sem estrada
queijo sem goiabada
sou eu assim sem você
Eu não existo longe de você
e a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
mas o relógio ta de mal comigo
Por quê...por quê...
zulu on Adriana Partimpim
terça-feira, agosto 03, 2004
elevador da glória
dias antes de aqui chegar
passei pela carruagem número 5,
sentei-me num lugar também ímpar
para onde havia acorrido
em passo apressado e certo
porque não é fácil apanhar um comboio
muito menos quando se passou
toda uma vida à espera dele
na paragem do 27,
o eléctrico que também já não me leva
a casa.
Andraar Litzmann
Arpad Szenes
depois da janela fechada
em certos dias em que não devem fechar-se as janelas
entrou por ali adentro
um objecto voador não identificado
em vez de chamar as televisões
dei-lhe uma sapatada
caíu inerte, possivelmente já sem sentir e sentidos
se calhar terão que preencher o obituário
e virão as televisões perguntar-me as razões
para eu ter aniquilado semelhante ser
do planeta Arguils veio então um processo-crime
sem caução, passei a ter pesadelos com janelas
e eu a fechá-las. Que tratante pensei eu de mim próprio
e de entre alguns daqueles gigantes tatuados
e pouco gentis
houve certamente quem não tenha gostado de que eu tivesse
mandado a sapatada final
pelo menos foi o que me disseram na enfermaria
e já na véspera de sair
de ver o sol e as montras que tendem a ter
manequins cada vez mais perturbantes
terminei o meu túnel
a dúvida era grande: esperar um dia ou escapar pela noite
depois da sapatada, achei que devia ir pela noite fora
escapar seria o ideal.
com o suor pelas fronteiras do corpo a
roupa mal-cheirosa a cheirar pior
sem forças
lá saí e vi uma luz diferente
ao meu redor só objectos voadores não identificados
vi uma janela e entrei
esbaforido
do lado de lá, zás
uma valente sapatada.
Andraar Litzmann
segunda-feira, agosto 02, 2004
zeca afonso
Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem pra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas pra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Zeca Afonso
Zulu e os 75 anos com zeca afonso