terça-feira, agosto 03, 2004
Arpad Szenes
depois da janela fechada
em certos dias em que não devem fechar-se as janelas
entrou por ali adentro
um objecto voador não identificado
em vez de chamar as televisões
dei-lhe uma sapatada
caíu inerte, possivelmente já sem sentir e sentidos
se calhar terão que preencher o obituário
e virão as televisões perguntar-me as razões
para eu ter aniquilado semelhante ser
do planeta Arguils veio então um processo-crime
sem caução, passei a ter pesadelos com janelas
e eu a fechá-las. Que tratante pensei eu de mim próprio
e de entre alguns daqueles gigantes tatuados
e pouco gentis
houve certamente quem não tenha gostado de que eu tivesse
mandado a sapatada final
pelo menos foi o que me disseram na enfermaria
e já na véspera de sair
de ver o sol e as montras que tendem a ter
manequins cada vez mais perturbantes
terminei o meu túnel
a dúvida era grande: esperar um dia ou escapar pela noite
depois da sapatada, achei que devia ir pela noite fora
escapar seria o ideal.
com o suor pelas fronteiras do corpo a
roupa mal-cheirosa a cheirar pior
sem forças
lá saí e vi uma luz diferente
ao meu redor só objectos voadores não identificados
vi uma janela e entrei
esbaforido
do lado de lá, zás
uma valente sapatada.
Andraar Litzmann