sexta-feira, maio 28, 2004
o barril de crude cai abaixo dos 40 dólares em Nova Iorque.
zulu aguarda redução no preço da gasolina.
quinta-feira, maio 20, 2004
os gestos violentos de labirinto urbano
que se nos afiguram com uma ténue mistura
entre o mênstruo da vertigem e um
rasurar contínuo de contágio, de doença.
são o prelúdio da nascença.
remetem-nos sem excepção para o abismo
reflexo de um movimento,
de uma ou várias ousadias.
são a víscera viva das erupções,
os lugares profusos da felonia.
e de geografia para outra,
ruas incompletas, ossadas palpitantes,
podridão, rostos a encoberto,
descobertos sob forma de espectros.
à beira do labirinto
permanece o minotauro com a tinta permanente
a deslavar o tempo das construções,
de lá para cá a obsessão, a inquietação do mundo.
nuno travanca
terça-feira, maio 18, 2004
Estará patente na Galeria Ceutarte exposição de pintura de Susana Rosa, até ao dia 12 de Junho.
Ceutarte:
Av de Ceuta - sul
lote 7 - loja 1
1350 Lisboa
Tel. 21 362 53 95
um zulu aguarda-vos
A 74.ª edição
da Feira do Livro de Lisboa decorre entre dia 21 e 6 de Junho
zulu esfrega as mãos
sexta-feira, maio 14, 2004
Poema para
Houve uma vez. Criou o zero.
Num certo incauto país. À luz da estrela
já porventura extinta. Entre as datas
nas quais alguém jurou. Sem um nome ,
polémico que fosse. Não deixando
abaixo do seu zero uma ideia simples e dourada
sobre a vida , que é aquilo que é. A lenda ao menos
de ter um dia acrescentado um zero à rosa
que colheu e feito um ramalhete.
De que , estando a morrer , partiu para o deserto
num camelo de cem bossas. De ter adormecido
à sombra das palmas da vitória. De que acordará
quando estiver já tudo contado
até ao mais pequeno grão de areia. Que homem este!
Interstício entre facto e pensamento
passou despercebido. Refractário
e todos os destinos. Repelindo
uma silhueta que lhe dou.
Sobre ele se adensou um silêncio sem cicatriz na voz.
Transfigurou-se a ausência em horizonte.
O zero escreve-se sozinho.
Wislawa Szymborska
quarta-feira, maio 12, 2004
parabéns!
segunda-feira, maio 10, 2004
morreu antónio champalimaud.
nasceu joão radich
sexta-feira, maio 07, 2004
Senhor Joaquim, deixe-nos sossegados. Vire essa lanterna para lá.
quinta-feira, maio 06, 2004
Lovesong
He loved her and she loved him.
His kisses sucked out her whole past and future or tried to
He had no other appetite
She bit him she gnawed him she sucked
She wanted him complete inside her
Safe and sure forever and ever
Their little cries fluttered into the curtains
Her eyes wanted nothing to get away
Her looks nailed down his hands his wrists his elbows
He gripped her hard so that life
Should not drag her from that moment
He wanted all future to cease
He wanted to topple with his arms round her
Off that moment's brink and into nothing
Or everlasting or whatever there was
Her embrace was an immense press
To print him into her bones
His smiles were the garrets of a fairy palace
Where the real world would never come
Her smiles were spider bites
So he would lie still till she felt hungry
His words were occupying armies
Her laughs were an assassin's attempts
His looks were bullets daggers of revenge
His glances were ghosts in the corner with horrible secrets
His whispers were whips and jackboots
Her kisses were lawyers steadily writing
His caresses were the last hooks of a castaway
Her love-tricks were the grinding of locks
And their deep cries crawled over the floors
Like an animal dragging a great trap
His promises were the surgeon's gag
Her promises took the top off his skull
She would get a brooch made of it
His vows pulled out all her sinews
He showed her how to make a love-knot
Her vows put his eyes in formalin
At the back of her secret drawer
Their screams stuck in the wall
Their heads fell apart into sleep like the two halves
Of a lopped melon, but love is hard to stop
In their entwined sleep they exchanged arms and legs
In their dreams their brains took each other hostage
In the morning they wore each other's face
Ted Hughes
"Eu interessava-me por um homem que, de longe, parecia maravilhoso, mas assim que ele se aproximava, via que não valia a pena".
Era esta a visão que Sylvia Plath tinha dos homens após os seis anos de casamento com Ted Hughes e do nascimento de Frieda e Nicholas.
Lady Lazarus
I have done it again.
One year in every ten
I manage it----
A sort of walking miracle, my skin
Bright as a Nazi lampshade,
My right foot
A paperweight,
My face a featureless, fine
Jew linen.
Peel off the napkin
0 my enemy.
Do I terrify?----
The nose, the eye pits, the full set of teeth?
The sour breath
Will vanish in a day.
Soon, soon the flesh
The grave cave ate will be
At home on me
And I a smiling woman.
I am only thirty.
And like the cat I have nine times to die.
This is Number Three.
What a trash
To annihilate each decade.
What a million filaments.
The peanut-crunching crowd
Shoves in to see
Them unwrap me hand and foot
The big strip tease.
Gentlemen, ladies
These are my hands
My knees.
I may be skin and bone,
Nevertheless, I am the same, identical woman.
The first time it happened I was ten.
It was an accident.
The second time I meant
To last it out and not come back at all.
I rocked shut
As a seashell.
They had to call and call
And pick the worms off me like sticky pearls.
Dying
Is an art, like everything else,
I do it exceptionally well.
I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I've a call.
It's easy enough to do it in a cell.
It's easy enough to do it and stay put.
It's the theatrical
Comeback in broad day
To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:
'A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge
For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart----
It really goes.
And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood
Or a piece of my hair or my clothes.
So, so, Herr Doktor.
So, Herr Enemy.
I am your opus,
I am your valuable,
The pure gold baby
That melts to a shriek.
I turn and burn.
Do not think I underestimate your great concern.
Ash, ash ---
You poke and stir.
Flesh, bone, there is nothing there----
A cake of soap,
A wedding ring,
A gold filling.
Herr God, Herr Lucifer
Beware
Beware.
Out of the ash
I rise with my red hair
And I eat men like air.
Sylvia Plath
zulu esperava mais do "Sylvia", mas não saíu decepcionado.
Je est un autre
Ele é o homem que toma notas,
O observador de chapéu alto preto,
De rosto oculto pela aba:
Em três cidades europeias
Tem-me visto a mim a olhá-lo.
À esquina de uma rua em Buda e depois
Junto aos correios, um vislumbre
Das abas do casaco sumindo-se
Deu esclarecimento igual e, examinado,
O aperto na garganta.
Outra vez, num encontro ao pé do Sena,
Com as águas um chão de estrelas a mexer,
Quando eu cheguei à porta já se fora,
Mas no pavimento, e ainda aceso,
Lá estava um dos seus habituais charutos pretos.
O encontro na escura escadaria
Onde a maré corria escorreita como um tear:
O atraiçoá-la, os beijos dela,
A tudo ele assistiu., quantas vezes
O ouço rir no quarto ao lado.
Observa-me agora trabalhando até tarde
A dar vida a um poema; os olhos
Reflectem a doença de Nerval:
Inútil é nesta velha casa interrogar
Espelhos, a sua máscara impenetrável.
Lawrence Durrell