ZuluDasMeiasAltas <data:blog.pageTitle/>

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

 
as primeiras coisas eram verdes ou azuis , com água pela cintura;
duras esmeraldas umas , outras animais , vibrantes
quando lhes toca a luz; o mais das vezes encostados
à parede do estábulo , com grandes olhos húmidos
e um precipício ao fundo ( e as nuvens são o seu bafo ).
e no entanto , visto à distância exacta , tudo se transforma:
o cenário do mundo é só um infinito espaço
cheio de coisa nenhuma , e a luz o puro efeito
de dois deuses menores que marcam compasso.

é certo que , na chuva , o teu corpo anuncia
com seu distante olhar , um prazer que não cabe
na estreiteza da fábula; um céu , não duvidemos ,
acolhe o terno gesto que não foi.
o tempo mal passado que apodrece; e ruminante encosto
ao tampo de água o bico ou pincel fosco
onde surgira , de repente , nada.

os portões oscilam , e a erva adiante , se nos aproximamos.
claramente vejo como te divides
num infinito número simultâneo de mundos.
as palavras celebram , mudas , a água na paisagem ,
verde ou azul , conforme desejaste.
avanço imóvel , descalço sobre a erva ,
e quando fecho os olhos invade-me a luz por dentro
compacta , completa , como as coisas primeiras


António Franco Alexandre



Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?