domingo, novembro 26, 2006
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Cesariny
R.I.P CESARINY
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Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu em Lisboa no ano de 1923. Estudou na Escola António Arroio (onde conheceu, entre outros, Marcelino Vespeira, Júlio Pomar, Fernando Azevedo ou Cruzeiro Seixas) e na Academia da Grande Chaumière em Paris, onde contactou com artistas do grupo DADA e surrealistas. O seu percurso conta ainda com uma aprendizagem musical com Fernando Lopes Graça. Passou pelo neo-realismo, por volta de 1944, mas acabou por se afastar. Em 1947 realizou uma das suas primeiras experiências plásticas vanguardistas - uma colagem sobre a figura do General de Gaulle – que evidenciava já uma ruptura, patente também na acção preponderante que desempenhou na formação do Grupo Surrealista de Lisboa e que depois abandonaria para formar um outro grupo, Os Surrealistas. Foi bolseiro da FCG em Paris, Londres e Lausana em 1964/65. O seu trabalho artístico versa tanto sobre a literatura como sobre as artes plásticas.
A sua obra explora o território do sonho, com uma pintura que se pretende fruto do acaso e do informe, próximo dos propósitos surrealistas, utilizando para tal suportes e materiais variáveis. O próprio dirá em entrevista: Mas não se esqueça que, para mim, a pintura é a denúncia do desespero, que permite criar os dias, as noites, segundo a forma, as cores e o acaso (com Agostinho Santos).
Cristina Cruzeiro
estação
Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho
Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça
Mário Cesariny
lembra-te
Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny
zulu bulldozer